Depois que Darwin sistematizou a teoria da evolução e a apresentou de forma mais racional ao mundo científico, o criacionismo caiu no descrédito. Sem argumentos, mas não pretendendo renunciar a fé, alguns cristãos procuraram conciliar sua fé com a evolução. Isto deu origem a um sistema de pensamento, evolucionista em sua essência, mas que incluía a presença de um Criador que teria dado origem à matéria e que atua no universo através do processo da evolução.
Do ponto de vista evolucionista, porém, este é um modelo inexpressivo das origens; apenas uma tentativa de conciliar duas ideias que pareciam razoáveis. O fato é que o evolucionismo explica tudo no universo sem ter que recorrer a um agente externo e, por isso, não precisa dele. Isto certamente transforma a crença na existência de Deus, para quem quer que aceite os pressupostos evolucionistas, em um luxo desnecessário. Observe como Ayala, um renomado biólogo evolucionista da atualidade, se pronuncia a este respeito:
"Darwin substituiu uma teleologia teológica por uma científica. A teleologia da natureza pode agora ser explicada como o resultado de leis naturais manifestadas em processos naturais, sem recurso a um Criador externo, ou a forças espirituais, ou não materiais."1
Com relação ao cristianismo, a situação não é menos problemática. Evolucionistas teístas são frequentemente obrigados a reinterpretar as Escrituras, a fim de harmonizar a Bíblia com a teoria da evolução. É muito comum, por exemplo, o argumento de que os capítulos iniciais do livro de Génesis não têm a intenção de esclarecer como o universo veio a existir, mas apenas revelar a existência do Criador que tudo fez.
Mas se esta é a interpretação correta, por que a estória dos seis dias e a descrição detalhada de como tudo teria sido feito? Mas isto não é tudo: o detalhe principal é que a narrativa bíblica descreve exatamente o mundo que temos hoje! O texto de Génesis dá especial ênfase ao fato de cada animal e cada vegetal ter sido criado de modo a se reproduzir segundo a sua própria espécie, isto equivale a negar a evolução e, tanto quanto tem sido observado, esta é uma descrição perfeita do que ocorre nos reinos animal e vegetal, onde gatos geram apenas gatos, coelhos geram apenas coelhos, e assim por diante.
A verdade é que o evolucionismo teísta se vê em dificuldades ao tentar se constituir em um modelo isolado das origens. De fato, entre evolucionistas, os teístas são apenas místicos; entre cristãos, péssimos intérpretes das Escrituras. Não é possível conciliar o inconciliável. A evolução teísta tem sido meramente um trampolim para a ateísta. Quase todos os evolucionistas ateístas um dia acreditaram na criação, em determinada fase tornaram-se teístas e hoje crêem somente na evolução.
Referências bibliográficas
1. Ayala, F. J., "Teleological Explanations in Evolutionary Biology", Philosophy of Science, Vol. 37, Março 1970, p.2.